abril 23, 2009
abril 21, 2009
Chorando as Cebolas
As vezes na vida é preciso juntar os cacos, encher os pulmões de ar para então começar a se montar novamente, recomeçar faz parte da vida!
Mudar de planos por que alguém simplesmente mudou de idéia e só te avisou nos 46 dos segundo tempo é uma merda mesmo. E isso pode ser bem doloroso, mas não é fim do mundo! Mas se não fosse assim de que valeria o tal livre arbítrio!?!
É impressionante como as pessoas não entendem que simplesmente você quer ficar sozinha, que não é por que o fulano ou o sicrano esta te cortejando que você tem que cair aos seus encantos!
SIMPLESMENTE É PRECISO FICAR UM TEMPO SEM SE ENCANTAR!!
Ser solteira é uma arte, porque as pessoas que te gostam sempre acha um absurdo uma pessoas com boas qualidades simplesmente querer ficar só!
É irritante o fato de você sair e as pessoas ficarem querendo te apresentar o um amigo, o irmão, o primo, o veterinário do papagaio da vizinha da tia velha!
Sei que o tempo passa rápido, mas não estou na janela vendo a banda passar, estou apenas escutando a banda tocar, enquanto isso me ocupo de mim mesma!
E me deixem com as minhas cebolas, que inclusive afastam qualquer pretendente!;)
abril 19, 2009
Dividindo o pão com los hermanos!
Recebo uma ligação com um DDD que não é o meu, eu no meio do transito, atendo!
Srª Su.... aqui é o Fulano do Banco “que te desconta varias coisas que você nem sabe o que é, pois não existe no extrato um tradutor de ciglas”, estou entrando em contato com a Srª para saber se a Srª fez saques na sua conta do São Paulo, Santa Catarina e Argentina!
Bem, pensei, de São Paulo dependendo do lugar pode até ser, depende da data, pois o ex (melhor não colocar aqui os adjetivos merecidos) mora lá, mas na pressa respondi que não!
Moço, nem sai de Minas Gerais, impossível que seja eu!
Srª, detectamos uma fraude na sua conta!
TENTATIVA??!?
Estamos bloqueando sua conta, cartões, sugiro que a Srª procure sua agencia o mais rápido possível!
Coração de Brasileiro é forte, eu sou prova disso, nesses meus quase balzaquianos anos de vida, o meu já ameaçou um infarto fulminante, mas resolveu aliviar e deixar para próxima!
Lá vai a bonita aqui até a agencia do banco das ciglas, após 30 minutos de espera (nessas horas entendemos pq os celulares vem com joguinhos), até minha senha aparecer na telinha, la vai eu para o a mesa do mocinho mooooderrrno!
- Moço, fui avisada pelo banco q houve uma fraude na minha conta.
- Sim, senhora, vamos mudar agora suas senhas e a conta já estará desbloqueada!
- Até ai, tudo bem!
- Terminado esse procedimento....Pronto Srª, tudo certo!
- Moço como assim tudo certo?! Preciso ver o que aconteceu na minha conta, saber demais procedimentos!
- Posso mostrar para a Srª aqui na tela, seu extrato dos ultimo 6 meses!
- Moço, não saberei avaliar olhando rapidamente na sua tela o meu extrato!
- Vou tirar la no caixa eletrônico e caso ache algo incoerente, o que devo fazer?
- A Srª tem que vir aqui e entrar com um pedido de revisão de movimentos indevidos, ai o Banco vai fazer uma “perícia” e se ele entender que houve mesmo alguma fraude, ele vai te ressarcir!
- Moço, devo registrar um boletim de ocorrência.
- A Srª quem sabe!
- Moço, se o próprio banco que viu a existência de uma fraude e vcs quem me avisaram, vc não entende que isso já é um motivo de “pericia”.
- Srª fica a seu critério!
É realmente eu fico abismada com o preparos dos funcionários para o atendimento ao publico!
Resumindo, se você tiver a vida “fudida” por algum FDP, engula o prejuízo e não faça perguntas, pq assim eu entendi a mensagem que o funcionário me passou!
AAhhh.... o mundo não é justo com os cidadãos honestos e que levam a palavra CIDADÃO a serio!
Mas assim, IPVA, IPTU e mais milhões de encargos vindo através de ciglas que vc paga, esqueça, eles não valeram de nada NUNCA!
E se seu pneu furar na estrada em algum buraco, não fique nervoso, polpe seu coração e agradeça se tiver um acostamento do qual você possa parar!
abril 07, 2009
MULHERES QUE NÃO PODEM NADAR
Você já conheceu pessoas desligadas? Digo, pessoas que levam a vida sem saber exatamente o que acontece ao redor e que, por uma estranheza qualquer, nem notam que vivem assim? Eu não sei ao certo se são pessoas específicas ou se na verdade somos todos. Como quando olhamos para a televisão e não vemos as imagens, apenas nos fixamos em um ponto qualquer do aparelho, divagando e, de repente, viramos para a pessoa ao lado e perguntamos, “o que foi que ele disse?”. Ou ainda quando se está pescando à beira de um rio, o movimento da correnteza o deixa meio zonzo e o barulho das águas propicia a mais absoluta introspecção até que finalmente o peixe morde a isca e enquanto puxa a linha para o fundo, empurra você à tona, de volta à realidade. Seja como for eu acredito que quem viva assim esteja correndo um sério risco. Risco de morte, mesmo. Principalmente, quando se está no convívio de mulheres que não podem nadar.
Foi o que aconteceu com um cara, o Eduardo. Ele estava em um rancho, na companhia de alguns amigos e a esposa, Mônica, curtindo um feriado prolongado. É interessante porque, um ano antes os dois estavam se casando. Olha que foram sete anos de namoro e mais dois de noivado até o grande dia. E para nós aqui da região do Cerrado não há no mundo lugar melhor que um bom rancho para comemorar ocasiões como essa, ou qualquer outra. Com boa pesca, cerveja estupidamente gelada, churrasco de picanha, comida feita em fogão de lenha, um joguinho de peteca na grama, um baralhinho à noite, um violão e... Piscina. Aliás, foi aí que tudo começou. Já estavam no terceiro dia daqueles que seriam os últimos dias de Pompéia.
Eduardo, só de calção e com as costas avermelhadas queimadas de sol, cuidava da churrasqueira. Cortou alguns pedaços da picanha assada, bastante gordurosos, e foi levar, todo carinhoso, para Mônica. Esta, recostada em uma rede armada na varanda e ainda vestida com o moletom vermelho usado para dormir na noite anterior, folheava um catálogo de compras de produtos estrangeiros com entrega por serviço postal para qualquer lugar do mundo. Havia de tudo. Barcos da Austrália, vinhos franceses, chocolates suíços, pescados do Chile, tênis alemães, armas americanas...
_ Querida, trouxe uma carninha pra você...
_ Pura gordura, Eduardo! Quantas vezes eu preciso dizer que detesto carne engordurada, Eduardo?
Era a primeira pista. Não o fato de nosso amigo não se lembrar de alguns detalhes preferenciais da querida esposa, pois quem o conhecia sabia que não o fazia por mal, mas por ele não ter percebido ainda que sua Mônica costumasse trata-lo por Edu, Dudu ou, simplesmente, “Môr”, e quando ela o tinha por “Eduardo” era porque estava nervosa, irritada, aliás, irritadíssima.
_ Duas da tarde e você ainda nesse moletom, meu bem? Vamos agitar um pouco. Que tal uma piscina?
_ Não, num tô afim.
_ Ah, que isso Mônica? Me faz companhia...
_ Não, Eduardo! Eu não posso nadar!
_ Não pode por quê? A água está uma delícia! Não trouxe maiô? Use aquele seu shortinho branco com uma camiseti...
_ Não, Eduardo! Eu estou com cólica, entendeu? Có-li-ca!
Sim, parece que ele havia entendido. Além de adorar a esposinha, o marido de Mônica era também muito sensível à dor. Ele se lembrou de um pequeno problema renal pelo qual passou e das terríveis cólicas que teve de enfrentar. Então se levantou, foi até o estojo de primeiros socorros que traziam no carro, encontrou um antiespasmódico, foi até a cozinha providenciar também um copo com água e os levou, todo solícito, à Mônica.
_ Tome querida. Pra você melhorar...
_ Ah, Môr! Que gracinha! – tomou – Desculpe ter-me irritado com você, Dudu! É que esses dias são terríveis!
_ Tudo bem. Eu sei como é.
_Vem cá, Edu. Senta aqui. Deixa-me passar um protetor solar nas suas costas. Você não se cuida, depois fica todo dolorido.
_ É...
Era uma cena bonita de se ver. Uma brisa leve, uma rede na varanda, dois pombinhos se cuidando... Bom seria se tudo na vida fosse assim. Que houvesse um dispositivo no tempo e o retardasse na iminência de uma grande catástrofe. Confesso que foi a partir daí que pude entender melhor a obra de Nelson Rodrigues. Principalmente no que se refere à vida, como ela é. E, nesse caso ela não seria mais a mesma depois disto:
_ A cólica está passando?
_ Está. Está sim, obrigada.
_ Então?
_ Então, o quê?
_ Vamos nadar?
Eu sei o que você está pensando, mas a resposta é não. Não, ele não era um idiota. Alguns gostam de chacoteá-lo pelo fato de ter cursado sete anos de engenharia sem ser jubilado, e o usam como justificativa para um conceito desses, embora eu acredite que seja puro preconceito. Porém, convenhamos: quem de nós se considera capaz de compreender o biorritmo físico e psicológico de uma mulher no período de sua TPM? O máximo que conseguimos realizar é um fechamento de questão: “é assim, porque é assim, e não se fala mais nisso”. Será que uma mesa redonda composta por um ginecologista, um psicólogo, um cabeleireiro e a melhor amiga de uma mulher conseguiria explicar? E não venha me taxar por estar defendendo posições machistas, tendenciosas e totalmente corporativistas, longe disso! O cara era desligado, mesmo! E não era só eu quem sabia disso. A própria Mônica, no limite de suas forças, com uma misericórdia maternal ainda suplicou uma última e desesperada tentativa...
_ Eduardo... Eu estou menstruada, Eduardo... Eduardo, eu estou sangrando!
Ele então recostou-se, bebeu um gole da cerveja em lata que tinha em mãos, observou o movimento das folhas das árvores ao sabor do vento, o vôo de um pássaro que não sabia o nome e voltou à Mônica, todo pragmático:
_ Tudo bem. A gente toma uma ducha antes.
Mônica fechou a alma. Abriu o catálogo na página de armas americanas e encontrou uma bereta Smith-Welson, calibre 32, cabo em madrepérola e semiautomática. Anotou o código de referência, o telefone da firma de exportação que ficava na Dinamarca, pegou o celular, caminhou até o pomar e fez o pedido. A mercadoria seria entregue na agência central dos correios, mediante reembolso postal e no máximo em vinte e oito dias estaria em suas mãos. Ligou em seguida para o celular de um dos amigos de Eduardo, um detetive da polícia civil que vivia lhe dando cantadas torpes, o qual, por coincidência, também estava no rancho e o chamou para conversarem no pomar. Ela concordou em transar com ele desde que a ensinasse a atirar.
Aprendeu tudo o que podia com apenas uma aula. Poderia não ter escrúpulos, mas estômago ainda o tinha. Começou então a freqüentar minicursos, aulas sobre anatomia humana, acupuntura, do-in, indagando aqui e ali sobre qual a parte do corpo humano era mais sensível à dor; qual o local exato onde um útero se alojaria numa estrutura masculina etc.etc.etc...
Mônica voltou a fumar, começou a ouvir música sertaneja, não conseguia dormir, faltava ao trabalho, mas continuava mantendo relações sexuais duas vezes ao mês com Eduardo.
A encomenda chegou. Contudo, no momento em que executava o resgate foi presa em flagrante por federais que haviam interceptado tal contrabando ainda na alfândega. Resignou-se. Tinha horror a escândalos. Encarcerada em cela especial graças ao curso superior que possuía, o que incluía um mestrado em Filosofia e um doutorado em física quântica. A racionalidade de Mônica se encontrava às margens de um buraco negro, porém jamais revelou o real motivo de suas intenções. Ela realmente tinha um propósito.
Indagado, Eduardo limitava-se em responder, todo catatônico:
_ E-e-eu não sei! Ela... Ela parecia tão bem!
Devido a uma série de atenuantes e alegando insanidade momentânea provocada por estresse, o advogado da família conseguiu um relaxamento de pena acompanhado de tratamento em uma clínica de repouso e recuperação. Do momento da prisão até a sentença do juiz foram outros vinte e oito dias no deserto da loucura. Mas aquele propósito dominava Mônica. Na clínica, ela se aproveitou da paixão confessa que de súbito provocara em uma enfermeira inglesa, cujas habilidades iam desde uma massagem clitoriana com orgasmos múltiplos, à facilitação da entrada de artigos não ortodoxos ao interior da clínica. Mônica lhe revelou que pretendia matar o marido para que “o amor de ambas pudesse ser livre”. A enfermeira acreditou. Mônica fez um pedido. E na noite anterior à visita de Eduardo, a amante inglesa lhe entregou um antiespasmódico, uma garrafa de uísque e uma bereta Smith-Welson, calibre 32, cabo em madrepérola, semiautomática e com silenciador. Na manhã seguinte, Eduardo lhe trouxe flores. Os dois conversaram um pouco... Ela disse que iria ao banheiro... Ele ligou a televisão, era um canal shoptime... ela entornou o vidro de antiespasmódico em um copo e o completou com uísque, destravou a arma e voltou ao quarto... Ele não desgrudava os olhos da TV...
_ Eduardo, você sabe o que é TPM?
_ TPM? – todo perplexo e ainda vidrado na TV – T-P-M? Tepeeemeee... Não era aquela organização que apoiou o golpe de 64? Qual era a sigla mesmo? Tradição... Propriedade – Ah, já sei! Naquela época, farmácia se escrevia com “ph”, então devia ser: Tradição, Phamília e Moradi... O que você está fazendo com essa arm...?
Um tiro. Um único tiro. A bala penetrou dois centímetros acima e à direita do umbigo, perfurando o estômago, o intestino delgado, o baço e se alojando entre a bexiga e um dos rins. Eduardo, todo indignado, rebate:
_ Mônica? Você atirou em mim, Mônica... Mônica, eu estou sangrando!
Ela então senta-se na cama. Bebe num só gole toda a mistura que havia no copo. Serve-se de mais uma dose de uísque, olha para a manhã que se estende do outro lado da janela, observa o movimento das folhas das árvores ao sabor do vento, o vôo de uma juriti... Volta os olhos a Eduardo... E num misto de carinho, solicitude, catatonia e algum pragmatismo filosófico, mas sem nenhuma perplexidade ou qualquer indignação, devolve:
_ Tudo bem. A gente toma uma ducha antes.
Esse texto é do Guimarães Lobo,Escritor e professor de redação.Filho de Tupã, irmão de Jesus, amante de Iemanjá, razão Navegante, alma Tupi, coração Nagô, cabeça Vermelha, tronco Branco, membros de Ébano, boca de África, olhos de América, nariz Português. Guimarães Lobo, 100% mestiço
Ele escreve contos para o Cultblog vale muito a pena conferir!!!
Passa lá!
Você já conheceu pessoas desligadas? Digo, pessoas que levam a vida sem saber exatamente o que acontece ao redor e que, por uma estranheza qualquer, nem notam que vivem assim? Eu não sei ao certo se são pessoas específicas ou se na verdade somos todos. Como quando olhamos para a televisão e não vemos as imagens, apenas nos fixamos em um ponto qualquer do aparelho, divagando e, de repente, viramos para a pessoa ao lado e perguntamos, “o que foi que ele disse?”. Ou ainda quando se está pescando à beira de um rio, o movimento da correnteza o deixa meio zonzo e o barulho das águas propicia a mais absoluta introspecção até que finalmente o peixe morde a isca e enquanto puxa a linha para o fundo, empurra você à tona, de volta à realidade. Seja como for eu acredito que quem viva assim esteja correndo um sério risco. Risco de morte, mesmo. Principalmente, quando se está no convívio de mulheres que não podem nadar.
Foi o que aconteceu com um cara, o Eduardo. Ele estava em um rancho, na companhia de alguns amigos e a esposa, Mônica, curtindo um feriado prolongado. É interessante porque, um ano antes os dois estavam se casando. Olha que foram sete anos de namoro e mais dois de noivado até o grande dia. E para nós aqui da região do Cerrado não há no mundo lugar melhor que um bom rancho para comemorar ocasiões como essa, ou qualquer outra. Com boa pesca, cerveja estupidamente gelada, churrasco de picanha, comida feita em fogão de lenha, um joguinho de peteca na grama, um baralhinho à noite, um violão e... Piscina. Aliás, foi aí que tudo começou. Já estavam no terceiro dia daqueles que seriam os últimos dias de Pompéia.
Eduardo, só de calção e com as costas avermelhadas queimadas de sol, cuidava da churrasqueira. Cortou alguns pedaços da picanha assada, bastante gordurosos, e foi levar, todo carinhoso, para Mônica. Esta, recostada em uma rede armada na varanda e ainda vestida com o moletom vermelho usado para dormir na noite anterior, folheava um catálogo de compras de produtos estrangeiros com entrega por serviço postal para qualquer lugar do mundo. Havia de tudo. Barcos da Austrália, vinhos franceses, chocolates suíços, pescados do Chile, tênis alemães, armas americanas...
_ Querida, trouxe uma carninha pra você...
_ Pura gordura, Eduardo! Quantas vezes eu preciso dizer que detesto carne engordurada, Eduardo?
Era a primeira pista. Não o fato de nosso amigo não se lembrar de alguns detalhes preferenciais da querida esposa, pois quem o conhecia sabia que não o fazia por mal, mas por ele não ter percebido ainda que sua Mônica costumasse trata-lo por Edu, Dudu ou, simplesmente, “Môr”, e quando ela o tinha por “Eduardo” era porque estava nervosa, irritada, aliás, irritadíssima.
_ Duas da tarde e você ainda nesse moletom, meu bem? Vamos agitar um pouco. Que tal uma piscina?
_ Não, num tô afim.
_ Ah, que isso Mônica? Me faz companhia...
_ Não, Eduardo! Eu não posso nadar!
_ Não pode por quê? A água está uma delícia! Não trouxe maiô? Use aquele seu shortinho branco com uma camiseti...
_ Não, Eduardo! Eu estou com cólica, entendeu? Có-li-ca!
Sim, parece que ele havia entendido. Além de adorar a esposinha, o marido de Mônica era também muito sensível à dor. Ele se lembrou de um pequeno problema renal pelo qual passou e das terríveis cólicas que teve de enfrentar. Então se levantou, foi até o estojo de primeiros socorros que traziam no carro, encontrou um antiespasmódico, foi até a cozinha providenciar também um copo com água e os levou, todo solícito, à Mônica.
_ Tome querida. Pra você melhorar...
_ Ah, Môr! Que gracinha! – tomou – Desculpe ter-me irritado com você, Dudu! É que esses dias são terríveis!
_ Tudo bem. Eu sei como é.
_Vem cá, Edu. Senta aqui. Deixa-me passar um protetor solar nas suas costas. Você não se cuida, depois fica todo dolorido.
_ É...
Era uma cena bonita de se ver. Uma brisa leve, uma rede na varanda, dois pombinhos se cuidando... Bom seria se tudo na vida fosse assim. Que houvesse um dispositivo no tempo e o retardasse na iminência de uma grande catástrofe. Confesso que foi a partir daí que pude entender melhor a obra de Nelson Rodrigues. Principalmente no que se refere à vida, como ela é. E, nesse caso ela não seria mais a mesma depois disto:
_ A cólica está passando?
_ Está. Está sim, obrigada.
_ Então?
_ Então, o quê?
_ Vamos nadar?
Eu sei o que você está pensando, mas a resposta é não. Não, ele não era um idiota. Alguns gostam de chacoteá-lo pelo fato de ter cursado sete anos de engenharia sem ser jubilado, e o usam como justificativa para um conceito desses, embora eu acredite que seja puro preconceito. Porém, convenhamos: quem de nós se considera capaz de compreender o biorritmo físico e psicológico de uma mulher no período de sua TPM? O máximo que conseguimos realizar é um fechamento de questão: “é assim, porque é assim, e não se fala mais nisso”. Será que uma mesa redonda composta por um ginecologista, um psicólogo, um cabeleireiro e a melhor amiga de uma mulher conseguiria explicar? E não venha me taxar por estar defendendo posições machistas, tendenciosas e totalmente corporativistas, longe disso! O cara era desligado, mesmo! E não era só eu quem sabia disso. A própria Mônica, no limite de suas forças, com uma misericórdia maternal ainda suplicou uma última e desesperada tentativa...
_ Eduardo... Eu estou menstruada, Eduardo... Eduardo, eu estou sangrando!
Ele então recostou-se, bebeu um gole da cerveja em lata que tinha em mãos, observou o movimento das folhas das árvores ao sabor do vento, o vôo de um pássaro que não sabia o nome e voltou à Mônica, todo pragmático:
_ Tudo bem. A gente toma uma ducha antes.
Mônica fechou a alma. Abriu o catálogo na página de armas americanas e encontrou uma bereta Smith-Welson, calibre 32, cabo em madrepérola e semiautomática. Anotou o código de referência, o telefone da firma de exportação que ficava na Dinamarca, pegou o celular, caminhou até o pomar e fez o pedido. A mercadoria seria entregue na agência central dos correios, mediante reembolso postal e no máximo em vinte e oito dias estaria em suas mãos. Ligou em seguida para o celular de um dos amigos de Eduardo, um detetive da polícia civil que vivia lhe dando cantadas torpes, o qual, por coincidência, também estava no rancho e o chamou para conversarem no pomar. Ela concordou em transar com ele desde que a ensinasse a atirar.
Aprendeu tudo o que podia com apenas uma aula. Poderia não ter escrúpulos, mas estômago ainda o tinha. Começou então a freqüentar minicursos, aulas sobre anatomia humana, acupuntura, do-in, indagando aqui e ali sobre qual a parte do corpo humano era mais sensível à dor; qual o local exato onde um útero se alojaria numa estrutura masculina etc.etc.etc...
Mônica voltou a fumar, começou a ouvir música sertaneja, não conseguia dormir, faltava ao trabalho, mas continuava mantendo relações sexuais duas vezes ao mês com Eduardo.
A encomenda chegou. Contudo, no momento em que executava o resgate foi presa em flagrante por federais que haviam interceptado tal contrabando ainda na alfândega. Resignou-se. Tinha horror a escândalos. Encarcerada em cela especial graças ao curso superior que possuía, o que incluía um mestrado em Filosofia e um doutorado em física quântica. A racionalidade de Mônica se encontrava às margens de um buraco negro, porém jamais revelou o real motivo de suas intenções. Ela realmente tinha um propósito.
Indagado, Eduardo limitava-se em responder, todo catatônico:
_ E-e-eu não sei! Ela... Ela parecia tão bem!
Devido a uma série de atenuantes e alegando insanidade momentânea provocada por estresse, o advogado da família conseguiu um relaxamento de pena acompanhado de tratamento em uma clínica de repouso e recuperação. Do momento da prisão até a sentença do juiz foram outros vinte e oito dias no deserto da loucura. Mas aquele propósito dominava Mônica. Na clínica, ela se aproveitou da paixão confessa que de súbito provocara em uma enfermeira inglesa, cujas habilidades iam desde uma massagem clitoriana com orgasmos múltiplos, à facilitação da entrada de artigos não ortodoxos ao interior da clínica. Mônica lhe revelou que pretendia matar o marido para que “o amor de ambas pudesse ser livre”. A enfermeira acreditou. Mônica fez um pedido. E na noite anterior à visita de Eduardo, a amante inglesa lhe entregou um antiespasmódico, uma garrafa de uísque e uma bereta Smith-Welson, calibre 32, cabo em madrepérola, semiautomática e com silenciador. Na manhã seguinte, Eduardo lhe trouxe flores. Os dois conversaram um pouco... Ela disse que iria ao banheiro... Ele ligou a televisão, era um canal shoptime... ela entornou o vidro de antiespasmódico em um copo e o completou com uísque, destravou a arma e voltou ao quarto... Ele não desgrudava os olhos da TV...
_ Eduardo, você sabe o que é TPM?
_ TPM? – todo perplexo e ainda vidrado na TV – T-P-M? Tepeeemeee... Não era aquela organização que apoiou o golpe de 64? Qual era a sigla mesmo? Tradição... Propriedade – Ah, já sei! Naquela época, farmácia se escrevia com “ph”, então devia ser: Tradição, Phamília e Moradi... O que você está fazendo com essa arm...?
Um tiro. Um único tiro. A bala penetrou dois centímetros acima e à direita do umbigo, perfurando o estômago, o intestino delgado, o baço e se alojando entre a bexiga e um dos rins. Eduardo, todo indignado, rebate:
_ Mônica? Você atirou em mim, Mônica... Mônica, eu estou sangrando!
Ela então senta-se na cama. Bebe num só gole toda a mistura que havia no copo. Serve-se de mais uma dose de uísque, olha para a manhã que se estende do outro lado da janela, observa o movimento das folhas das árvores ao sabor do vento, o vôo de uma juriti... Volta os olhos a Eduardo... E num misto de carinho, solicitude, catatonia e algum pragmatismo filosófico, mas sem nenhuma perplexidade ou qualquer indignação, devolve:
_ Tudo bem. A gente toma uma ducha antes.
Esse texto é do Guimarães Lobo,Escritor e professor de redação.Filho de Tupã, irmão de Jesus, amante de Iemanjá, razão Navegante, alma Tupi, coração Nagô, cabeça Vermelha, tronco Branco, membros de Ébano, boca de África, olhos de América, nariz Português. Guimarães Lobo, 100% mestiço
Ele escreve contos para o Cultblog vale muito a pena conferir!!!
Passa lá!
Assinar:
Postagens (Atom)