outubro 19, 2009
FALANDO DE AMOR
Mulher está sempre falando de amor, já repararam?
Matinais, vespertinas ou noturnas, há lindas, doces, russas ou cafuzas, tristes ou feias falando de amor ou pensando nele.
Jovens ou velhas, magras ou gordas, em pecado ou virtude, em todas as paisagens, latitudes e ambientes, a mulher sempre está a falar e a florar de amor.
Nenhuma mulher é feia falando de amor.
Duendes do mistério tocam de ilusão e esperanças o imo de toda mulher que fala de amor.
Falar de amor, para os outros ou a si mesma, salva.
Falar de amor é amar o amor sentido.
Falar de amor é entrar no tempo mítico, um tempo sem temporalidade, sem fluxo inexorável.
Falar de amor é penetrar no tempo dos deuses, a eternidade vivida no instante imobilizado para a mulher em estado de amor abrir o flor-coração e florar e flarar doçuras, projetos e sonhos.
Na mulher que flora-flara de amor estão todos os anjos e, mais que eles, todos os demônios angelizados, obreiros misteriosos de partes indispensáveis a essa mistura de sortilégio, endemoniamento e sublimidade que é o amor.
A mulher que fala, flora ou flara de amor não é um ser individual contando o seu episódio de vida, a doce biografia pretendida.
É um ser da natureza, na faina da procriação. A história do seu caso é apenas o pré-texto de sua entrada na grande harmonia geral do amor cósmico, na ordem misteriosa da manutenção da vida.
Por isso acorrem tantas entidades secretas, ninfas, fadas, dríades e napéis para cantar e tornar amena a tarefa de amar, embelezando-lhe o ato de confidenciar(se), auscultar(se), perguntar(se), contar(se), saber(se), confirmar e descobrir tudo o que lhe vai n'alma, na deliciosa bebedeira do amor compartido ou secreto, falado flora ou florando dentro.
Mulheres juntas, contando - alegres e brincalhonas - a bobagem adorável de uma frase, o sinal manifesto do sim, as grandes dores de cada saudade, as ânsias dolorosas da dúvida, são a natureza em funcionamento e vida.
Mulheres falando de amor (e também as mulheres em silêncio, em adorável tagarelice interior) não são apenas pessoas com seus casos particulares e sim a vida em processo, a eternidade em funcionamento e gestação.
Seres sagrados, pois falar de amor é manter o amor.
É soprar a chama que o alimenta enquanto consome.
Feliz de cada homem que neste momento está sendo lembrado por alguma mulher em qualquer parte do mundo!
Feliz até mesmo aquele que está sendo xingado por amor ou detestado, em prantos, por causa do amor.
Enquanto houver mulheres alegres ou tristes (brabas, não: mulher braba não entra em poesia!) falando, florando, fluindo e influindo amor, a humanidade pode ter alguma esperança.
Há vida pulsando por baixo do suicídio contemporâneo.
Enquanto houver mulheres atrasando o serviço, enganando o poder, driblando os zagueiros da vida para falar de amor ou nele pensar, o mundo está salvo.
Artur da Távola
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